Preparamos mais uma entrevista para vocês, dessa vez com Zuzka, uma das fundadoras do festival Kino Brasil! Como ela percebe o festival anos depois, como consegue trabalhar da França e o que mais espera este ano? Continue lendo para descobrir!
[Bára] Zuzka, você é uma das fundadoras do festival. Você acha que o festival está se desenvolvendo na direção certa? O que está melhorando e o que já foi melhor?
[Zuzka] Acho que o festival está se desenvolvendo, o que é importante para mim, e certamente não ficaria satisfeita e não gostaria de trabalhar no projeto se ele estagnasse. Se o desenvolvimento está indo na direção certa, só o tempo, o possível comparecimento e a satisfação do público dirão. Após os primeiros dois anos de festival, tivemos a sensação de que já sabíamos tudo e que temos tudo para levar o festival de Praga à outras cidades da República Tcheca sem ajuda local. Esse foi certamente um passo à frente do qual rapidamente recuamos. O atual desenvolvimento de melhoria da edição de Praga do festival é certamente mais fácil para nós e talvez mais interessante para o público. É definitivamente melhor termos mais experiência e mais contatos, então algumas etapas se tornam mais eficientes e nos dão mais tempo para focar em outros aspectos da organização, como a promoção do festival. No passado, pelo contrário, tínhamos mais tempo para tudo - ver um ao outro, assistir a um filme juntas e a organização em si. Mas é provavelmente inevitável que, à medida que a equipe envelhece, tenhamos outras responsabilidades de trabalho e familiares e não possamos dedicar tanto tempo ao projeto quanto antes.
[Bára] Seus papéis mudaram durante os 11 anos de festival. O que você mais gosta/gostou em suas muitas funções e o que, por outro lado, você está feliz que alguém da equipe tenha acrescentado?
[Zuzka] No início eu me dedicava à arrecadação de fundos para instituições públicas, e fico feliz que com o tempo essa função tenha evoluído, porque com o tempo, escrever solicitações oficiais se torna um tanto rotineiro. Acho que me saio bem em funções de coordenação e, ao mesmo tempo, gosto da criatividade das tarefas de marketing, embora muitas vezes consumam muito tempo. Não creio que tenha medo de tarefas pouco populares, onde é preciso falar de desconto ou, pelo contrário, de dinheiro, por isso patrocínio e negociação dos preços dos filmes também recai parcialmente sobre mim, e gosto deste papel também .
[Bára] Qual função você assumiu este ano?
[Zuzka] Esse ano já estou tradicionalmente cobrindo marketing, mas claro que não estou completamente sozinha. A Bára é quem mais me ajuda com o site e conteúdo para redes sociais, preparando conteúdo para os fãs basicamente todos os dias. Ao mesmo tempo, ainda me comunico com distribuidoras, tento encontrar patrocinadores e a comunicação com parceiros de mídia também caiu no meu colo. É uma tarefa relativamente demorada que basicamente não tem limite, ainda era possível abordar cada vez mais parceiros potenciais e alguém tinha que assumir essa tarefa. Não quero dizer que não goste, gosto de me comunicar com as pessoas... só leva mais tempo.
[Bára] Você mora no exterior há vários anos. A sua abordagem ao festival mudou. Como você consegue participar das reuniões e ainda estar ativa? Veremos você pessoalmente durante o festival deste ano?
[Zuzka] Sim, a abordagem mudou um pouco. Considero o festival um “filho” meu, e por estar mais longe, sinto que tenho um pouco menos de controle sobre o seu destino. Embora não só por causa da pandemia de CoVid, penso que adaptamos bastante bem formas digitais de funcionamento. Tento honestamente participar das reuniões, com exceções, mas é difícil – basicamente metade do ano temos uma noite por semana bloqueada. E estou em um novo país construindo uma nova rede de contatos e muitas vezes ficaria tentada a participar de um evento local numa terça-feira à noite. Mas encaro o festival como um compromisso – o fato de trabalharmos nele de forma voluntária não significa que esse compromisso não tenha o mesmo peso que o trabalho. Desde que cheguei à França, tenho conseguido ir sempre ao festival de Praga e espero que seja assim também este ano. Encontrar espectadores satisfeitos no cinema é essencialmente a recompensa mais importante, sem a qual não teria sentido para mim.
[Bára] Você trabalha no festival voluntariamente. Não é desafiador às vezes? Realmente dá muito trabalho. Isso te preenche ou você já se sentiu esgotada?
[Zuzka] Sim, é um desafio, como mencionei acima. Mas assim como já mencionei, é importante para mim que o festival se desenvolva e isso me motive para novos trabalhos - a oportunidade de concretizar novas ideias, de adquirir novas experiências. É claro que às vezes surgem sentimentos de ligeira vaidade quando não temos dinheiro suficiente para as nossas idéias, quando nos atrasamos no planejamento, etc. Por exemplo, no ano passado eu estava à procura de um novo emprego perto do festival, por isso teoricamente eu tinha um pouquinho de tempo quando eu não estava trabalhando naquela época. E como sou uma pessoa que não gosta de desistir, também tentei cobrir tarefas de alguns outros membros da equipe que eles não conseguiram terminar, ou tarefas que ninguém teria feito de outra forma. Mas tive a sensação de que não estava procurando o novo emprego corretamente pelo tempo que precisava. Admito que o esgotamento não estava longe. Este ano, estou à tentar encontrar um melhor equilíbrio entre o tempo que posso dedicar ao festival e o tempo que preciso de estar em outro local, por isso espero poder ficar no festival por um tempo :)
[Bára] A equipe está mudando este ano. O grande reforço brasileiro Adilson foi adicionado e parece que mais uma à caminho, a também brasileira Carol, vai se juntar ao time. Como você percebe isso?
[Zuzka] Definitivamente positivo! Faz muito tempo que não temos um brasileiro no time. Não que fôssemos contra, mas ou estávamos a lidar com uma barreira linguística ou com uma perspectiva diferente de planejamento e organização. E a perspectiva brasileira sobre o assunto e o festival certamente nos agrada. Mesmo que todos da equipe sejam próximos do Brasil, às vezes podemos perder algumas conexões. Além disso, pelo menos imagino que com o tempo seremos capazes de passar o festival para a próxima geração com novo vigor e ideias. Portanto, o festival continuará a desenvolver-se sem nós - para mim, não tenho de estar aqui para sempre, só não gostaria que o evento desaparecesse...
[Bára] O que você recomendaria ao público este ano? Por que eles deveriam vir ao festival?
[Zuzka] Definitivamente não perderia pelo menos um evento do programa acompanhante, quando há realmente muito por escolher este ano. Por exemplo, degustar comida brasileira. No festival sempre oferecemos aos visitantes um pequeno lanche brasileiro, mas por possibilidades técnicas nunca foi uma refeição completa, era mais parecido com fast food. E este ano, graças à colaboração com a Rotisería Cruz, isso vai mudar! A culinária brasileira é incrivelmente diversificada, assim como a cultura brasileira, então estou curiosa para ver o que eles reservam para os participantes da degustação! Mas toda a programação acompanhante antes do festival vale a pena. Provavelmente chegarei no cedo nesse ano também, para poder ir à pelo menos alguns dos eventos. E quanto aos filmes, acho que estamos com a agenda lotada novamente, mas tenho uma relação pessoal com o filme Betânia. Tive a oportunidade de assistir aqui na França com o diretor, e o clima do filme me atraiu muito. O filme foi aplaudido de pé pelo público francês, e não apenas porque zomba dos franceses, por isso acredito que será bem recebido também em Praga.
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