Drama, drama e mais drama. O festival deste ano será realmente tão dramático? Leia a entrevista com nossa dramaturga Gábi, preparada para você por Barbora, que faz parte da equipe do Kino Brasil.
“Os filmes me conquistaram porque realmente me transportaram por um momento para o Brasil, que tanto amo, e também me interessei pela mensagem deles. É incrível como alguns cineastas conseguem nos transmitir a realidade, captá-la em sua poeticidade e pureza e nos deixar com uma forte impressão. São experiências maravilhosas."
- Gábi, a dramaturga do Kino Brasil
B: Quantos filmes você assistiu este ano e quantos favoritos você teve?
G: Este ano assisti cerca de trinta dos filmes mais recentes. Sinceramente, não assisti todos até o fim - também há filmes que podemos estar convencidos de que não são adequados para o festival. Seja em termos de qualidade ou tematicamente. Todos os anos também considero filmes que vi em anos anteriores. Se contássemos também estes, o número de filmes aumentaria em muitas dezenas de outros.
B: Quais filmes o público pode esperar e como eles conquistaram você?
G: Foram selecionados os filmes Pureza, Betânia, Retratos Fantasmas, Retrato de um Certo Oriente, O Buscador e Domingo à Noite. Esses filmes me atraíram por seu valor artístico, processamento, temática, capacidade de transmitir “brasilidade” ao espectador e de ressoar com o mesmo. Pessoalmente, os filmes me conquistaram porque realmente me transportaram por um momento para o Brasil, que tanto amo, e também me interessei pela mensagem deles. É incrível como alguns cineastas conseguem nos transmitir a realidade, captá-la em sua poeticidade e pureza e nos deixar com uma forte impressão. São experiências maravilhosas.
B: Seis dramas e um documentário. O festival deste ano deveria ser tão dramático? Ou simplesmente há muitos dramas de qualidade sendo filmados no Brasil?
G: Não se trata de ser muito sério. Afinal, o drama é um gênero que também pode abraçar o humor ou a tensão. E sim, o Brasil produz muitos dramas de qualidade. Nós nos concentramos principalmente em filmes de qualidade.
B: Que tal uma comédia alegre, uma história emocionante da favela ou filmes musicais que muitas vezes atraem o público? Você não os considerou? Você não tem medo de que as pessoas não vão ao festival porque será muito “sério” para elas?
G: Comédias brasileiras são boas, mas raramente assisto em casa quando preciso desligar a cabeça. Mas, para ser sincera, há muito tempo não encontro uma comédia de alta qualidade que mereça ser apresentada ao público tcheco. São atos bastante consumistas da mídia comercial. Muitos filmes musicais são feitos no Brasil, e eles têm muitos músicos excelentes sobre os quais vale a pena fazer filmes. Este ano, o filme Elis e Tom foi selecionado, mas era um documentário - e já tínhamos um selecionado. Não queremos ter mais de um documentário no programa, pois não haveria espaço para não-documentários. E quando se trata de filmes policiais das favelas do subúrbio, Cidade de Deus ou Tropa de Elite são, em suma, filmes icônicos insuperáveis.
B: Dois dos filmes (Pureza e Betânia) têm no papel principal uma mulher forte e com destino difícil. Esses filmes não são semelhantes em estilo. Por que o público deveria assistir os dois?
G: Embora esses dois filmes tenham os nomes dos personagens principais no título, eles são muito diferentes. Pureza é um filme biográfico com um final comovente, vindo da selva, e tem como tema principal os direitos humanos. A atriz que interpreta Pureza, Dira Paes, é uma premiada estrela brasileira e um rosto conhecido tanto na televisão quanto no cinema. Renato Barbieri também é um diretor com muita experiência e filmes lançados. Já Betânia é um esforço mais artístico a partir do ambiente de uma paisagem desértica tão inusitada próxima ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Tem mais enredos e personagens, uma história mais complexa e aborda mais temas. A atriz principal, Diana Mattos, é um rosto desconhecido do telespectador brasileiro. Ao mesmo tempo, esta é a estréia na direção de Marcelo Botta.
B: Pela enésima vez ao longo dos anos, você escolheu um filme dirigido por Kleber Mendonça Filho (hoje Retratos Fantasmas). É possível dizer que seus filmes são a base do Kino Brasil? E você já pensou em trazê-lo pessoalmente para o festival?
G: Kleber é sem dúvida um dos artistas brasileiros mais marcantes da atualidade. Seus filmes viajaram por todo o mundo e são sempre aplaudidos de pé. Pode-se dizer que tudo o que ele filma, queremos ter no festival. No entanto, eu não diria que os seus filmes seriam a base do nosso festival, pelo menos não o único. Existem muitos outros grandes diretores no Brasil cujos filmes amamos e sempre queremos trazer. Este ano, por exemplo, procurei imediatamente o novo filme de Marcelo Gomes, Retrato de um Certo Oriente, porque é simplesmente mais uma jóia do seu estúdio. E sim, se o destino permitir, gostaríamos de trazer no futuro Kleber, Marcelo, ou Karim Ainous, Gabriel Mascaro e outros grandes cineastas brasileiros.
B: Este ano o público poderá novamente aguardar um filme baseado na história do escritor Milton Hatoum - Retrato de um Certo Oriente (ano passado exibimos O Rio do Desejo). Este filme é parcialmente preto e branco. Existe uma razão para a edição em preto e branco. Você acha que é melhor do que se fosse em cores?
G: Segundo o diretor, ele escolheu o tratamento em preto e branco por vários motivos: por um lado, queria capturar a floresta amazônica e seus múltiplos verdes de uma forma diferente, de uma forma que combinasse com a história e o período em que ocorre. Ao mesmo tempo, ele a descreve como um meio artístico de evocar no espectador a nota nostálgica das fotografias antigas. Quando olhamos para uma fotografia a preto e branco, sentimo-nos reconciliados com o passado, sorrindo pelo que vivemos e pelo tempo que perdemos há muito tempo. O conceito preto e branco funciona perfeitamente para mim pessoalmente. A cada imagem subsequente, forma-se a poética sutil do filme. Faz parte da intenção artística e certamente não mudaria as cores neste caso.
Consulte aqui o programa completo do festival deste ano.
B: E quanto aos outros filmes, o que mais o público pode esperar?
G: Temos outros ótimos filmes na programação. Domingo à Noite é um drama íntimo sobre um casal de artistas idosos, uma atriz famosa e um escritor. A personagem principal cuida de seu amado que sofre do mal de Alzheimer e de repente ela também é diagnosticada com a mesma doença. É um olhar muito sensível para um casal idoso, suas cicatrizes de vida e seu amor extraordinário. A seguir, temos o peculiar filme O Buscador, que contrasta a elite brasileira corrupta e o esforço para viver em harmonia com a consciência, a liberdade e o bem. O filme é inusitadamente composto por planos muito longos, e a câmera assume assim um dos papéis principais. Cada um dos filmes que apresentamos tem um encanto único. Definitivamente vale a pena vir ver o que está acontecendo no Brasil hoje.
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